quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ai, ai, ai, Niemai

Ai, ai, ai, Niemai
Nossa arquitetura
Reta, curva
Lúcio Costa

Quem é que não gosta
De arroz com bosta é que a gente disfarça
Quando tem garça é que o lago ta limpo
Dia de domingo não tem ameaça
O eixão em festa e o poder dormindo
Cultura de fome que logo passa

Afofúria

O dinheiro afofa tudo
Afofa o bobo,
Afofa o gordo
O bronco e o farofeiro

Da fofúria pra luxúria
Da fofagem à sacanagem

Basta um fofo e a sua fúria
Junto com a sua fissura
Na busca duma imagem
Falsa, farta, feia e xula
Mas não
Carente de afofagem

Desde que no bolso fofo
Não lhe falte a tal vantagem

A nadadeira de quem é?

A nadadeira de quem é que é
É do peixe
Que nada, nada, nada sem que ele se queixe
Que nada, nada, nada dele se cansar
E fazem tantas, tantas bolhas, quanto as de sabão
E a pata de quem é que é
É do bicho do mato
E a pata, a pata, a pata é quem namora o pato
E o pato foge, foge, foge do bicho do mato
Mas ele até que não é, um cara mau
Só depende do homem, se o homem for um cara legal
É bom tratar a todas criaturas, como quem trata a si mesmo
Como quem vê na natureza a casa sua
É bom sorrir pro belo sol nascente
Para a limpa água corrente, olhe o brilho das estrelas, linda é a lua
Só não vale chorar, se não for de alergia
Alergia?
O gatinho é bonitinho mais o pelo coça, o cachorrinho é bonitinho mas o pelo como é que coça
E tem a pulga e tem o mato, tem a poeira o carpete e tem o carrapato, é tanto bichinho escondido tem até o tal do ácaro
Ácaro?

A massa

A massa que ocupa modela e não some
Consome a força da culpa do homem
Que mexe com ela e preenche o inane
Ou de bruta loucura e prazer sem nome
Ou oculta o prazer pra manter-se são

A ira da rosa

Tal como a ira da rosa
Que deixa os espinhos crescer
Sem perder na face a beleza
Única e inenarrável de ser

A cor da faixa branca

Vejo lá o dito homem da lei, sem estudo pra isso, sem salário pra tal, carrega na cinturinha aquela cinta de balas vazia, vazia? Sim. Por enquanto vazia. Isso porque ainda é novato, novato é assim, por um tempo carrega a cinta vazia, isso pois ainda não está apto a carregar uma cinta cheia, mas ainda assim ele carrega a porra da cinta. Sempre me pergunto, pra que esta porra desta cinta, me dizendo que amanhã teremos mais um novato armado. É a cor da faixa branca da polícia dedicada que me assombra. Não se tem estudo pra isso, nem salário pra tal, nem vida que supre o letal. 

O Retorno de Nokuda - Prólogo

O que você acha do rosa, cor interessante não é?

Penso no rosa, mas penso também em Nokuda, feroz guerreiro poeta do Mar de Todos os Gansos, que quase nada deixou de sua jornada pelos caminhos ocultos. Suas pegadas se apagaram com a primeira brisa, de forma que não temos sua trilha nem o tamanho de seus pés.

É difícil falar sério sobre Nokuda, já que logo nos inunda a vista sua veste rosa escura e sincera, tal como um demônio bom, carregado pelo peso do julgamento do Cosmos, e o fardo da androgenia herege. É certo que Nokuda era um errante, suas botinas de cano alto trabalhadas delicadamente a partir do couro de animal indeterminado que cresce livre no cativeiro do Mestre, já pisaram o imundo, profetizando desde a rolagem da cabeça real pela exaustão da pança por conta da gula, até a inundação de Terraseca pelo Mar de Todos os Gansos, de onde, pela asfixia, restaram apenas bolhas contendo cada último suspiro feliz dos ditos mortais não pecadores.

Nokuda não disperdiçava palavras, sua principal fonte de extermínio, sua arma explícita e imponente, pois que andava à sua frente, abrindo espaço pelo escuro do silêncio, em meio aos pagodes insensatos e à maioria burra: aos tolos, " todo ter é pouco", á linda - " princesa casta e do monarca filha, teu deus te guarda e filha tua nomeai, riqueza e poder às tantas e nem salvara a coroa do pai", aos crentes - "o que é meu é meu, e o que é seu, já que é nosso, como é de minha posse, só eu me aposso", ao quase sexo " o paradoxo e o desconexo, contextam amor, quando testam o sexo, e os complexos, com todos seus reflexos, dispensam ser anexos".

Era assim Nokuda, uma figura má, de má formação, má educação, mal vestida, mal dita, isso quando se entende por mal o mesmo que Santo Agostinho, a auxência do bem, um bem me quer, ou qualquer bem que seja dado, ou que seja feito, ou como o bem a que almeja o sutil diretor de arte, "não entenda mal, mas é que isso não faz bem". Seria talvez nosso Senhor Rosa desprovido de algum bem, que brilhasse mais que sua capa rosa ou suas botinas de pelo desgrenhado? Sim, sua magia estava onde o olhar ainda não alcança, onde mora a insipiência humana, algo além do sentir convencional, é o estudo da incerteza, a pesquisa do instinto. O amor de Nokuda, é esse o apelo do bravo, o seu afeto invisível, que se esconde por traz de seus dentes amarelos pela Fumaça Que Faz, que se esconde por trás de sua Barriga Que Come, por trás do olhar disperso de quem pensa no outro.

É esse o Nokuda, o amante do impensado, improvisado em breves linhas de um a tela digitada sem zelo, como mais que um agradecimento, que é também mais que um pedido, é o início de uma história da qual se espera um fim condizente com seu nascimento, mas que no entanto é incerto, e na verdade é isso que é bom.

O Soluço

Minha mente sempre foi espaçosa para abrigar devaneios. Desde criança eu já era procurado por minhas idéias esdrúxulas. Lembro da vez que "fugi" de casa, encontrei um saco de conchinhas em baixo da ponte do bragueto e fui vender na rua, o motivo disso tudo eu não me recordo, mas devia ser ir pra Disney. Essa cabecinha de Deus sempre foi terreno féritil para o surgimento de grandes soluções, isso dizia minha mãe, mas, na maioria das vezes, grandes problemas também, já essa constatação era da madre batatinha, uma das freiras da escola em que comecei minhas divagações filosóficas de ginásio. 

Quem não esquece minhas loucuras também é a mãe do Nema, meu fiel parceiro de mulequices. E foi exatamente nas lembranças daquele tempo que ela se fiou para procurar minha ajuda na semana passada. Me ligou chorosa clamando por uma idéia daquelas para socorrer o Nema. Disse ela que meu grande amigo de infância havia adquirido uma soluço que perdurava já tinha seis meses. Soluço! Já tinha lido no Guiness Book que um pobre coitado soluçou por cinco anos e de repente parou. Bem, depois de 5 anos soluçando, quando parou assim sem dar aviso, provavelmente o cara achou que ia morrer, o ser humano se acostuma com tudo, mas acho que a mãe do Nema não queria ouvir isso não.

Passei dois dias matutando sem falar com meu camarada, que a essa altura já nem saía mais de casa, sua estima estava tão em baixa que não falava nem no telefone, não ia mais pro trabalho, que é de telemarketing, o que é totalmente compreensível, mas o pior, não conseguia mais se relacionar com ninguém, uma deprê total.

A solução me veio naturalmente, assistindo a um filme de suspense tipo B, dos piores que já vi, um em que um monstro que não aparece ataca New York e mata tooodo mundo. O engraçado é que o filme é recente. O objetivo deveria ser assustar a platéia que só fazia rir. Mas é isso, soluço se cura com susto! Dito e feito, saí do filme e liguei pro Nema.

Quando a gente era criança ele era um carinha bem destemido, brigava na rua, pulava de cachoeira, descia ladeiras incríveis de skate e coisas tais. Ele só atendeu por que não nos faláva-mos há muito tempo e ficou curioso com a ligação. Eu disse logo de cara que sabia da situação e que queria propor-lhe uma visita a um boog jump de um outro amigo nosso dos tempos de terrorismo infantil, pois ele precisava se distrair um pouco, pelo menos para relaxar a sua mãe, que estava muito preocupada.

Em paralelo, liguei pro nosso amigo instrutor de suicídio e expliquei meu plano, ele achou graça mais topou a brincadeira. Lá chegamos e depois de relembrar os tempos pueris fomos ao que interessava. O Nema corajoso foi logo na frente, como estava entre amigos antigos ainda conseguia se sentir a vontade para soluçar com tranquilidade. O instrutor o amarrou ao aparato e lhe disse que se deixasse cair lentamente de costas para o abismo olhando para a gente. Nesse momento, assim que percebemos que não tinha mais como ele voltar, desistir da queda ou se agarrar a qualquer coisa veio o combinado, o instrutor fez uma cara de susto com medo extremo e gritou: - Pelo amor de Deus, Nema, esqueci de amarrar a outra ponta! 

Perfume

 Todos os esforços agora se concentram em saber exatamente o que eu quero. É impressionante a constatação da falta deste conhecimento. É metade que se vai. Dois terços que não se percebe. Três quartos de ignorância. Um inteiro desconforto. Viver ao balanço da vontade eólia parece tentador, mas nada se compara ao poder da decisão. A responsabilidade pela própria conquista. Me concentro agora em saber o que realmente eu quero. Parar com esse negócio de querer um monte. Atirar bastante e contar com a sorte. Me parece agora que podemos mais. E esse mais tem cheiro, e esse cheiro que vai na frente, indica que ele está por aí, te aguardando, à espreita. O cheiro é bom, é sutil, mas quando percebido faz até chorar. Pois eu estou sentindo esse perfume, só que ainda não sei de onde vem. E assim que eu souber, correrei com toda a minha velocidade em sua direção. Vem perfuminho, vem.

Oops - Carta aos Funfarrões



Sim, o coração em chamas me permite dizer que um carnaval por ano é muito pouco, e que uma quarta de cinzas é menos ainda. É por que tem cinzas por aí pra mais de mês. E eu que sou mais novo!? A sede por festa e cultura é o que nos guia para além do caminho do apocalipse, já dizia Uaua Uelfons “E se eu der tudo de mim, o que é que sobra?” Sobrar pra que? Gaste tudo na Funfarra!!!

Assim que eu disser quais são os DJs dessa quinta prevalecerá a vontade de que a quinta seja hoje, e que depois da quinta de hoje venha a quarta de amanhã, pois as cinzas vão rolar. Ã?

Segue a lista das celebridades: Barata, Pezão, eles mesmo, Chicco Aquino, Cacai, Léo, êta pô..., Rud, Oops, D.Black, Cell, Barki, ai, ui. Bizonha será esta noite, que festa é essa?

Funfarra

Sabe o que acontece? Aniversário do Oops, um sujeito carismático, desses que mexe com arte e conhece só personalidade. Em homenagem a este fenômeno faremos da Funfarra dessa semana a “Quinta-Fera”, um encontro dos Djs mais atuantes da cidade pela alegria cósmica, tipo “We are the world”.

E como a fome pela informação é insaciável, novos visualistas incrementarão a Funfarra próxima:

Marta Mencarini – Além de expor sua obra singular ela promete uma surpresa com seu novo sucesso, uma performance de deixar cabelo em pé. Tá bom, quem conhece este escritor funfarrão sabe que esse papo brabo de cabelo não lhe cabe, mas...

Hieronimus do Vale – tem gente que já nasce com nome artístico, assistindo aos seus vídeos entenderemos que o destino existe.

Drão – é o graffiteiro da noite - Picasso não pixava por que não sabia usar spray!

É isso gente, só alegria e que a arte esteja com vosco.

Para o alto e adentro.

Jesus me chicoteie - Carta aos Funfarrões

Jesus me chicoteie, mas ele era o mais perdidinho na Santa Festa de Gabriel Quartim. Quem não parou em frente aquela maravilha exposta nas duas últimas quintas? É a Santa Funfarra do homem que hoje faz parte dela, enriquecendo a galeria celestial com suas pirações. Se alguém não reparou, duas gerações de artistas homogênios (palavra que aqui distingue seres da mesma linhagem genética) apresentaram seus trabalhos na edição de 10 de Abril: o já citado Gabriel e seu filho Cirilo Quartim, contrapondo as telas do pai a sua psicodelia digitalizada. Tudo na Funfarra é conceito. O primeiro expondo na parede, mostrando ao filho de onde ele vem, e o segundo projetando no teto, mostrando ao pai, para onde vai.

Minha mãe sempre me disse que só me meto em coisa louca, e que depois ela descobre que a tal coisa era boa mesmo. Ela, que quase nunca erra, sim, as mães também erram, disse a minha mesmo, quando me viu ir morar com um irmão de minha seita funtástica, um artista plástico da pesada, e, o cosmos sabe, muito mais louco do que eu. Na verdade tenho sentido alguns olhares de inveja do HPAP. Mas esse convívio com o desconhecido inusitado sensacionóptimo, poderia mas não é o nome do camarada, tem me permitido chegar a conclusões praticamente incontestáveis a respeito da missão dos sujeitos criadores nessa vida. A última delas, que surgiu em meio a zueira gostosa do batidão funfarrento foi a de que, enquanto membros atuantes da sociedade universal ou  altruístas do apocalipse, temos que pirar, pirar muito, pirar tudo. Essa é nossa obrigação pertinente à cidadania cósmica. Estamos no caminho. 

Invejoso urubu - Carta aos Funfarrões




Invejoso foi o urubu, que de olho no pavão de repente indagou: - pra que tanta pena bonita se é só pra enfeitar o bum bum? Pior foi quando viu que é exclusivamente pra chamar atenção. Traseiros à parte, andam perguntando a Wava Jets, o cronista de festa, (cronista de festa foi a última que ele ouviu de um dos funfarrões participantes, e adorou). Mas sim, foi questionado acerca da quantidade de informação ou artistas e suas artes presentes. - É só pra chamar atenção? Claro! Pavão depenado não pega nínguem!

O importante ali, além do entretenimento e da folia mesmo, é chamar a atenção para a arte brasiliense, tanto do público que comumente não tem contato com determinadas vertentes artísticas, quanto do próprio artista, que fora do meio acadêmico só se encontra em abertura de exposição, aqueles eventos super legais. Não tem nada de cult não, é farra mesmo, funfarra da pesada. E tá bom, viu? Já ouvi dizerem até, que não vão contar pra ninguém que é pra ver se a lotação não ultrapassa os níveis de conforto.

Preocupa não, coração, o espaço é grande, coberto e aberto, parece mentira né? Se eu era você, fazia logo a carteirinha. Chega lá, tem obras de arte espalhadas pelo pátio, vídeos de toda natureza pelo teto, performers fazendo graffiti ao vivo (na boa, viu o último do Fokker? incrível), Djs e seus repertórios fabulosos, explode coração! E nessa semana tem banda!!!! Se liga na programação.

Hipopótamos Carnívoros! - Carta aos Funfarrões

Em 1995 cientistas norte-americanos descobriram que os hipopótamos em situações adversas podem até comer carne! Isso foi uma revolução para a ciência, sabe porquê? Não faço a menor idéia, mas eu que não sou de mentir vou logo dizendo que a FunFarra dessa quinta está complexamente imperdível. Sério!

Quem expõem? Quem?


Andrey Hermuche – se algum dos caros ou maravilhosas não conhecem esse cenógrafo, diretor de arte e artista plástico de valor cultural inegável para o universo, tem que se atualizar, coração.

Os vídeos dessa vez serão de quem? Krishna Passos, fala a verdade...

O performer na área, o show man, mandando ao vivo, é ninguém menos que Rodrigo Paglieri – Graffitando e Stencilzando, existe essa palavra? Não importa, pois os artistas quebrarão tudo assim como os donos do som.

Donos do som?

A estrada é curva
A visão é turva
O sabor é trufa
A fumaça é densa, ops, gelo seco, reggae – Café Roots – direto de Taguá, o iôiôiô acabará com as ondas estacionárias. Sim essa é a música das esferas de Platão. Já contei que Platão era regueiro? O texto está ficando grande, depois eu conto essa. 

Funfarra tem site! - Carta aos Funfarrões

Indomáveis e audaciosas,

Funfarra tem site! agora a Funfarra tem site! Se você é algum maníaco da rede, do tipo que prefere se acabar na frente do monitor a curtir a carne, os ossos e as ruas, seus problemas se acabaram, chegou o Site da Funfarra! A tecnologia a serviço da população.

Saiba um pouco do que andam produzindo os seus artistas plásticos prediletos, o que dançam tocando os Djs mais empolgados, o que pintam graffitando os artistas que fazem ao vivo o que se vê surgindo da noite para o dia nas paredes da cidade. Veja toda a coleção de crônicas funfarrentas que você recebe involuntariamente toda semana desde a primeira edição e ainda assista a trechos da festa que vem reunindo toda categoria de artista e apreciador, em prol de um único objetivo, o culto à diversão.

Esse abrigo dos curingas na internet foi desenvolvido pelo curinga mor, o grande mestre dos magos e principal colaborador das festividades de quinta-feira, Cirilo Quartim. Também uma espécie de maníaco-artista, Cirilóides fez surgir, numa audaciosa virada de noite, mesmo com todos os clamares para que cuidasse de sua parca alimentação e oxigenação cerebral, uma maravilhosa janela na rede, disponível ao mundo, apresentando artistas locais e espaciais aos adoradores do desconhecido.

Funfarra na rede é peixe, e dos grandes, conte pra todo mundo, mais não perca o rebolado, deixe os cogumelos para o pasto ou faça o que quiser com eles, só não sirva de substrato, seja o produtor e a arte final dessa festa fabulosa, se liga na programação:


Aos Funfarrões - Carta de Agradecimento

O textículo Funfarra dessa semana vem como carta de agradecimento, além de obviamente dar continuidade ao simples objetivo de contar pra todo mundo a quantas anda este evento novo com jeitinho de nem tanto. Pessoas como Alexandre Rangel, Tiago Botelho, Onio, Marta Mencarini, Hierônimus, João Angelini, Andrey Hermuch, Barata, Léu, Oops, Raquel Nava, Crivelário, Plínio e Cirilo Quartim, dentre os tantos artistas que participam desde a primeira edição da Funfarra merecem crédito incomensurável pela crença cega de que uma festa sempre pode melhorar.

Semana passada a Funfarra teve sua provação: as cachoeiras desenfreadas que desciam vorazes do firmamento com a linda meta de nutrir a terra, mal sabiam que estavam exagerando. E o incrível maravilhoso aconteceu. A chuva parou? De forma alguma! O Senhor, escrevendo sempre com suas linhas de compreensão quase inatingível nos sinalizou mais uma vez de que tudo dá certo no final. Os zililitros de água por culisegundos que caiam no parque naquela quinta-santa não foram suficientes para inibir a presença de qualquer dos funfarrões. Pelo contrário, abastecida de um nobre sentimento de coragem e união, que aliás deveria se propagar cosmos afora, a comunidade festeira percebeu que junta conseguiria não apenas driblar a corrente, mas fazer com que ela mudasse seu curso. Chegou todo mundo junto!

Os guarda-chuvas coloridos e seus seguranças em dinamismo histérico compuseram uma sempsacionóptima dança ao longo da passarela da moda. O ir e vir de nossos auxiliares zelosos acompanhando as pessoas no trajeto do estacionamento à festa foi uma diversão a parte.     

Eis então o principal dos agradecimentos. Ao público. Que prestigiou o que os artistas tanto queriam fazer. Que dançou, e desta vez foi até de manhã, na festa, na passarela, no estacionamento, no..., é, dançou bastante. Que gritou aos céu para que chovesse mais, pois estava gostoso – se acabar em suor sob as carícias da brisa úmida.

As adversidades jamais domarão a arte, na verdade elas vêm como estímulo: da tristeza um belo samba surgirá, dum lamento uma linda moda de viola, e da chuva uma Funfarra inesquecível!

Um muito obrigado a todo mundo que faz essa festa prosperar!
Para o alto e adentro!

Armário Andante - Carta aos Funfarrões

O Armário Andante ou o Móvel Dinâmico - a redundância veio bem a calhar para a vídeo-instalação de João Angelini e Luciana Paiva na quinta passada: o móvel de maior apreço da família Adams percorria livremente a pista do Funfarra, dividindo a dança com uma galera que mais parecia que tinha realmente acabado de sair do armário, a insanidade tomou conta.

Plínio Quartim pintou ao embalo da festa e o resultado não poderia ser outro, registro em tela das belezas naturais de quinta à noite, beldades à meia luz. Semp Sa Cio Nóptimo! Crivelaro marcou presença com seus rostos em fundo selvagem, tudo altamente contextualizado. Super Stereo Surf é claro. A música ao vivo tem que acontecer, está em algum dos 10 mandamentos, ou seriam 11? Não Vos Afobeteis, esse é o décimo primeiro. Isso por que uma vez por mês uma banda aparece na Funfarra explodindo os corações. Foi o que a surf music da quinta passada fez, a do ramos!

O Cucaracha como sempre surpreendeu - o cara consegue tocar todo dia e continuar surpreendendo, salve a evolução. E pra encerrar: Dj Mak, com o batidão irresistível, que fez com que os Caras Legais Produções Irreverentes dormissem por lá mesmo, já que ninguém foi embora, na verdade ouvi dizer que tem gente ainda vagando pelo parque...

Essa retrospectiva é pra quem não foi entender um pouquinho do que está acontecendo por lá, e agora a programação dessa quinta-fera, dia 06 de Março, folder novo, já viram? Agora o curinga é neon, botando a pilha!

É isso, i ói, fica com medo da chuva não, arrumamos umas simpatias com guarda-chuvas grandes e coloridos para acompanhar os funfarrões no trajeto do estacionamento para a festa, tá tudo lindo e tudo certo.


Alma Transgressora - Carta aos Funfarrões

Incontestáveis e Soberanas,

em mais outro de meus exercícios mediúnicos, coisas do tipo flutuar, trafegar por ambientes sem ser visto e falar com estranhos, troquei uma idéia muito interessante com um espírito superior a cerca das convenções e modelos de beleza e felicidade.

Imagine-se adentrando um recinto que toca a música que você quer escutar. O Dj sabe qual é a canção certa para cada um dos seus momentos. Uma breve espiada e, ao redor estão todas as pessoas que você quer encontrar, inclusive aquela, que você quer muiiito encontrar, e o melhor, ela esta só te esperando. Deu sede? o que você quer beber está na temperatura que você considera ideal para consumo. Artistas plásticos desenhando ao vivo os corações que você viu na novela e acha que vale a pena ver de novo. Tudo lindo.

Um lindo saco!!!

Nossa alma inconstante e imoral clama pela surpresa e pelo inusitado. Será que o que queremos é o melhor que pode nos acontecer? Pois bem, chega num lugar que você já sabe que é lindo, o Parque da Cidade, e de repente os patinhos passam na sua frente confraternizando com a festa. Você tinha pensando nos patinhos? Olha pro teto, projeções de trabalhos magníficos e manipulação de vídeo que provavelmente você nunca viu, e que ainda podem ter sido feitas por algum amigo seu, pois a área é dos artistas da cidade.

Obras de arte espalhadas instigando sua curiosidade. Pessoas de todo tipo, e alguns tipos que só se vê por la´. Todas convergindo num padrão alto do que pode se chamar de beleza de um ser humano. Ah, e aquela pessoa... pode ser que ela esteja lá, pode ser que não, e também pode ser que hajam outras, só indo pra saber. A música eu acho muito difícil de tocar exatamente o que você quer ouvir, mas acho muito fácil de a surpresa te agradar, pois a festa conta com as feras furiosas da noite brasilense.

E os corações pintados ao vivo? Bem, a priori a Funfarra fica lhe devendo essa, o povo lá não é muito de desenhar coração, mas... vai que justo na hora que você encontra aquela pessoa que tal e blau, um artista surta e pinta o diabo de um coração! É isso, na Funfarra é assim, a única certeza é de que sua alma transgressora te atormentará se você não voltar.

Beijo na Pleura

Sobre algumas amizades

Revolvendo meus escritos - cadernos e folhas avulsas que arquivo na bagunça de pastas envelhecidas como o recheio e enobrecidas pela inclemência temporal, ratifico a união de partes que jamais deixaram o uno - identifico na abstração de meus versos a onipresença de amizades inestimáveis e que me orgulham por ter-me na mesma conta.

É enigmático como a interpérie encastela os pilares de nossa formação, e fabulóptimo quando esse crescimento natural é testemunhado por nobres personalidades em evolução convergente.

Eduardo Maia, Rodrigo Otávio e Carlos Eduardo. Conheço os três desde que se chamavam assim, o que durou muito pouco, uma vez que logo as personalidades marcantes de Dudu Maia, Rodrigo Barata e Cacai Nunes entraram em cena.

Difícil não me alongar ao falar de Dudu, hoje um dos grandes medalhistas do bandolim brasileiro, mas que conheci numa época em que me chamava de Vavá, por não conseguir falar Wladmir, que aliás, nunca achei que fosse nome de criança mesmo.

Rodrigo Barata, o paizão de meu querido afilhado tem cova certa ao lado da minha no cemitério do rock, que pelo visto demorará muito pra nos receber, tendo em vista a ruindade destes vasos inquebrantáveis.

Cacai Nunes, que o word não à toa insiste em chamar de Caçai, já caçava encrenca desde criança. É o nosso representante bucólico, apesar do mudernoso som que o cabra tira de sua viola caipira.

Passamos juntos por tantas fases quanto uns trinta e pouquíssimos anos muito bem vividos podem abrigar: infância trabalhadeira, preibois do prano, metaleiros do apocalipse, roqueiros do pé descalço, universitários universais, estudiosos da música, das pick ups e das filosofias de bar; historiadores da vida, ufólogos.

Me lembro de tocar hard core em sobradinho com o Barata (banda Pão com Ovo) e ser expulso do Galcão João de Barro à base de impropérios super-criativos, por que nosso som era farofa demais para o público de filhos do demo que nos assistia. Dudu Maia saindo ileso de um sério acidente de carro quando ouvia nossa primeira fita demo, da banda Xalé Verde - urucubacas à parte, mas pouco tempo depois li um relato de um brasiliense que escapava da queda do WTC: “quando começou a cair eu ouvia um disco de uma banda de Brasília, o Xalé Verde...” tudo bem, a banda já acabou. Nunca esqueço também de que, numa daquelas viagens marivilhóptimas do Xalé pelo litoral brasileiro, quando cruzávamos a linha verde na Bahia, passamos pelo então ciclista Cacai Nunes, que voltava de Natal para Brasília, é isso mesmo, mas de mês de pedal. Ainda bem que ele descambou de vez para a viola e parou de nos preocupar com sua bitolação atlética.

Inúmeras são as histórias e as pessoas maravilhosas que junto conosco as fizeram tão importantes. Tomei-me de grande alegria quando me foi solicitado algumas palavras acerca de minha relação com três das grandes personalidades que me ajudaram a ser o eu mesmo de hoje, meu único lamento foi ter tão pouco tempo pra conectar as idéias e manifestar em palavras o valor da nossa relação. 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Portal dos Milagres

Era segunda feira chuvosa, dia de esperanças. Segundas, acho que mais do que domingos, são dias de esperança. Toda uma semana pela frente... Tudo bem, ter toda uma semana pela frente pode ser chato, mas insisto na esperança que mora na segunda. Sim, porque na primeira (domingo) mora só o bode, a ressaca e a seqüela. É claro, isso pra uma parcela da população mundial, pois que pra muita gente, no que diz respeito ao trabalho ou à fanfarra, já não há diferenciação entre nenhum dos dias da semana.

Pois sim, era segunda, hora de abrir e-mails, check-up geral, pseudo-organização para dar segmento à semana. Nesse meio tempo tocou o telefone. Era minha garota com uma informação muito importante de que naquele dia se daria um fenômeno denominado Portal dos Milagres, marcado pela emissão, ao nosso querido planetinha, de raios ultra-violeta que atuariam de forma diferenciada em nossa psique, promovendo aumento substancial na faculdade de alteração do cosmo por meio da força da mente... Sim, em teoria, era pensar e acontecer. Desta forma, logicamente, houve uma convocação geral da população para mentalizar o bem comum, um pensamento lindo e único que findaria na remoção do mal mundial - aproveitemos este dia energético para pensar no bem cósmico, já que todos nós humanos, com nossas capacidades de transformação ampliadas, pensando juntos num bem só, tem que funcionar.

Pensei naquilo o dia inteiro, era muita responsabilidade diante de uma oportunidade tão única. Uma outra amiga que mexe com espíritos me falou também dos tais raios, aumentando muito ainda a minha confiança na informação. Fui lá eu pensando em coisas boas: esse disco dará certo (estou gravando um disco), todos ouvirão e se derreterão de paixão, mostrarão para outras pessoas que alimentarão o mesmo sentimento, ficarei famoso... fiquei famoso...

De repente, como num filme, fui tomado de um choque surpreendente, fruto, é claro, dos tais raios que àquela hora já dominavam o planeta. Jornais e revistas com minhas fotos estampadas em suas capas caiam irradiantes, um por cima do outro, por sobre um fundo preto, mostrando como minha fama e meus bens cresciam a cada momento. O sucesso por fim havia chegado, eu agora era rico, ajudava criançinhas - sempre jurei que assim que ficasse rico ajudaria as criançinhas, os velhinhos e todo mundo. Convenci o Osama a ser bonzinho e pedir desculpas em nota oficial ao mundo todo, e isso logo depois de trocar uma breve idéia com o Bush, que iniciou uma campanha de desarmamento nos EUA e depois renunciou, se desculpando aos seres humanos e ao ambiente.

Tanta coisa aconteceu... Garras estranhas e afiadas apareceram em minhas mãos, me tornando um ser extremamente poderoso, que poderia pular de prédios a uma distância sinistra. Sem contar minha força, que deixava o super-homem se cagando. Não brinca! Olhei pra baixo: minha barriga havia sumido! Em seu lugar apareceram morrotes como os de um tanque. Acho que nem Popó abalaria minha estrutura com seus murrinhos de moça!...Ih, o meu cabelo cresceu! Eu que fui careca desde os 17 agora tinha uma cabeleira exuberante que balançava em câmera lenta, feito propaganda de shampoo.

A minha definição muscular era de tal forma, que eu sentia como se cada célula minha fosse um tendão, tensionado e resistente ao extremo, pronto para ter meus braços esticados por dois trens, sem que nenhum deles saísse do lugar.  Minha lindeza era tanta que mal podia andar na rua, pois seu brilho ofuscava a luz do sol, que uma hora dessas já achava melhor se por. E foram tantos acontecimentos, que já era noite... Tantos anos se passaram nessa maré de tantos peixes grandes que eu já era grisalho, ainda indefinidamente lindo, porém já totalmente acostumado ao sucesso. Um cara extremamente maduro, tipo um Dalai Lama do rock.

Depois de um dia tão cheio de shows e entrevistas e assistência social, resolvi dormir. Afinal, astros de brilho eterno também cansam. Adentrei a minha suíte, que ficava na beira da serra, com vista para uma enorme cachoeira e um fundo verde recheado de fauna e flora exuberantes para tudo que é lado, fechei os olhos e, de repente, num passe de mágica, me toquei, e antes de me despedir de minha realidade e cair em meu sono Real e profundo bati a mão na testa e lembrei: Putz! Era pra pensar na paz mundial!!! 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Festa na CASA

Big Brhothers & Mega Sisters,

nesse sabadão de quase-chuva tem festa na Casa Dos Artistas.

Pra quem não conhece a Casa ilustra as firulagens cósmicas dos aspirantes a Gandalf do Cerrado: Uáua Jegs, A. Medusa e R. Yorguti.

A festa sarau spa verni peça se inicia rigorosamente às 21hs, horário de Brasília, com a participação super especial do primeiro louco que invadir a varanda. Sim, a Funfarra estará presente.

Teremos obras de André Santângelo fundidas ao meio – pergunte antes de mexer nos copos ou papel higiênico, pode ser um pensamento profundo. Teremos também a metade das bandas Toró de Palpite e Rádio Casual, e ainda a presença dos Djs fantásticos e seus reperta fabulosos: A. Medusa, Uáua Jegs e R. Yorguti, apresentado a trilha sonora que acompanha a Casa.

É imprescindível a presença das cervejas em suas mãos quando adentrarem o recinto - sem poesia alguma: a cerveja não pode acabar, traga um pouco a mais do que pensava que iria beber, não dirija, não volte pra casa, o lago é logo ali, deita e espera o sol, é legal, é sim, eu juro, mas não fui eu que fiz.

Eu, que não sou de mentir, digo que uns dois realzinho ia bem, uma contribuição pras faxina e tals.

Venha na pilha, se estiver triste venha também, venha.

Sábado, 07 de Novembro de 2008 no Lago Norte, mi 03, conj. 04, casa 21, o cep nem os cobradores sabem, passou o varjão um pouquinho se liga na placa e vira a direita,  quando chegar o momento você saberá, pequeno gafanhoto. É isso, pegou a direita na mi 03, depois a primeira à esquerda pro conj. 04, daí já dá no estacionamento. Parou e pronto, a felicidade é logo ali.  

Só pedimos para não espalharem para Geral, chamem apenas os amigos mesmo, daí já dá um monte.

Inté

Casa

O Coleoptera - Carta aos Funfarrões

Sexta-feira, 04 de Abril, como de costume, lá pelas cinco e tantas da matina, voltando da Funfarra para as minhas bandas, que diga-se de passagem são um bocado longe dali, o que me possibilita reflexões mirabolantes e até pensar no texto da próxima edição, feito, pensando...
Conversando com uma simpatia num almoço de domingo (e como agradeço ao divino por poder compartilhar do almoço de domingo com pessoas tão queridas), ela me disse que a hora de voltar para casa, quando já de manhã, é o melhor momento para se resolver os problemas do mundo, que seja um mundo só seu, mas que a cabeça cansada de tanto dar cabeçada acaba por resolver de uma vez a parada pra poder relaxar. 
Essa foi a minha conclusão. Só pode ser isso, pois agora eu só quero dormir, o que faz com que eu vá do parque à minha morada com a cabeça do lado de fora da janela, tomando o vento frio da manhã e escutando Ella Fitzgerald & Louis Armstrong. Ah, sabe aquele disco maravilhoso que gravaram juntos, sim, sim, é esse. Ele é um dos discos que eu levaria para a ilha, deserta ou não. Em algum momento, se tivesse como, eu ouviria esse álbum. Se o contexto funfarrístico não fosse a dança eu colocaria esse som na íntegra, quem sabe antes das pessoas se levantarem e começarem a chacoalhar tudo... 
Pois é, a cara fria da brisa matinal, escutando essa maravilha funtástica, já é de manhã, flash, salve o meio-fio que me guia, em casa, tomando meu iogurte de antes de ninar, aquele famoso iogurte de fazer cocô - isso foi o que me disse uma vez uma criancinha linda, não sei quem lhe ensinou, e ela mal tinha aprendido a falar cocô - sem contar minhas alucinações auditivas (meu ouvido psicodélico escuta coisas que nem o divino...) - ouvi cocô, e esqueci de perguntar ao seu pai se a criancinha sabia falar cocô, ou será que ela estava cagada, ou? 
Bem, esse papo escatológico não era o foco, o foco...

Mas enquanto tomo esse tal iogurte laxante matinal pós funfarrento inspirador observo um besouro que se lança em vôo do outro lado da cozinha - tenho a sorte de morar numa casa cuja cozinha, de tamanho satisfatório, é palco de maravilhosos sarais brasilienses - sim, o besouro. Seu vôo lento e desengonçado tem a trajetória acompanhada por minha visão desde sua partida, do outro lado da sala enorme, do banheiro, da cozinha, e eu, com meus reflexos em estado fantástico observo, além da planagem irreverente do bicho através do ar calmo da casa, também o seu pouso, em meu iogurte de fazer cocô, tenho que parar de repetir isso, mas aquela criancinha é tão fofa... veloz que me encontro, acompanho todo o afogamento do Coleóptera na textura viscosa do meu lanche.
Me parece que as bandas de rock psicodélico ou heavy metal ainda não descobriram os nomes científicos, tipo Coleópteras Rangentes, ou Psilocybes Ardentes, eu que já fui metaleiro barra pesada e roqueiro psicodélico deveria ter encontrado isso antes, acho que foi por isso que cursei alguma coisa de engenharia florestal, subsídios... como será que ficaria Pão com Ovo em nome científico? ou Secreção Mucosa? Nossa! Essas foram algumas das minhas bandas, e uma delas com o Dj Barata. Ih Barata, eu podia dizer isso aqui? 
Mas o que mais me intriga, é o fato de que o bicho, esse tal coleóptera blablablasis, nem se debate. A idéia de que o invertebrado sabe exatamente o que faz nessa hora da manhã, enquanto eu pelejo com todos os meus pensamentos esfumaçados em prol da produção do próximo textículo da Funfarra, me arrasa. 
Ele vem assim de longe, da sala, do banh, do outro lado da cozinha para se afogar no meu iogurte com tanta determinação. Está dando a vida para me fazer dormir antes de concluir meu café, o texto, ou qualquer resolução para o bem da humanidade, me matando de inveja.
Há pelo menos uma meia hora, esparramado na cozinha depois dessa Funfarra semp sap cio nóptima, tô eu, totalmente inspirado para escrever as palavras que invadem os correios dos funfarrões semanalmente, cheio de idéias, e os problemas do mundo, a minha amiga simpática me disse: domingo que vem tem almoço com os amigos, pão com ovo...

Saudades do lápis

Saudades do lápis?! Até que não... Me desgostavam as pontas irregulares, gestoras da gastura. Mas tinha naquilo coisa boa, é claro. O instante mais instantâneo, mais natural, em qualquer lugar. Acho que nem notebook se leva pra qualquer lugar; caderninho fajuto sim.
Guardo em casa, numa pasta velha e amarela, tudo o que é papelzinho fajuto, nos quais escrevi qualquer baboseira. Não é de meu feitio tratar minha sensacional obra desta maneira, é só que a qualidade do que foi escrito não vem ao caso. Importante é ter escrito.
Muito do que fiz eu nem entendo, nem o porquê e nem mesmo o que quis dizer. Obviamente meus olhos brilham quando acho algo que minha compreensão alcança e que minha razão aponta como sendo realmente bom. Não que isso não mude novamente daqui a algum tempo. Mas é que visitar o passado pode trazer o conhecimento; Viver nele ou dele é que talvez não. 

O amor da menina

O amor da menina, representante maior de todos os benefícios divinos, é a própria sorte - tanto por ser o objeto amado, quanto por ser indutor do referido sentimento. O amor é de posse de quem ama, não carece de correspondência, por mais que a tristeza, ou o sonho popular pregue o avesso como verídico. Sorte de quem ama, azar de quem trai, tendo a traição como ato pessoal e intransferível, gerador de conseqüências não passíveis de conceituação de ordem do bem ou mal.

Triângulo?!

Eu já vinha me achando meio esquisito, mas... Outro dia eu tava dobrando o edredom - tudo bem que edredom já nem é muito molim de falá – e... Eu e meus santos dotes domésticos aflorados..., mas então! Tava dobrando o edredom e, depois que olhei o resultado, me deparei com um triângulo. Ahm?! Deixe-me pensar... NÃO! Dobrei normal, como sempre faço, a cada três ou quatro dias, e quando estiquei o compacto sobre a cama tava lá; um triângulo. Um sujeito místico pode até viajar no simbolismo da cena, a aparição do triângulo lhe informando da base sólida que empunha a vida do indivíduo em direção ao futuro seguro, o tripé de sustentação da alma, o amor, o prazer e... o prazer.


Beleza, mas que segurança eu posso ter se, enquanto pensava num retângulo, produzi um triângulo? É uma aresta inteira a menos!

Machão

Admirando aquela calcinha rosa por detrás do pano grosso do vestido bordado, eu pensei: é incrível como vejo essa maravilha de calcinha que se esconde sob um tecido tão espesso. Dia desses recebi pela internet meu horóscopo chinês – não, eu continuo sem entender lhufas de signos, mas quase sempre faço a social –, sou de serpente, e lá dizia que rosa é minha cor. Ainda bem que não sou machão.

É por isso que machões não gostam do zodíaco, é uma viadagem só...

Tocata no Ceará - Carta aos Melhóptimos




Ô Brasilzão lindo de meu Deus!

Nessa minha mania de enaltecer o que vejo de bom por aí, hoje darei notícias do Ceará.

Já tinha ido àquela Fortaleza linda algumas vezes. A capital é famosa pelo maravilhoso Centro Cultural Dragão do Mar - que é imponente como o nome -, pelo turismo sexual, por seus travestis mais fortes que os do Fenômeno e por ter a segunda-feira mais agitada do mundo. Sim, parece que lá enche mais até que o Criolina (uma festa exemplo daqui). Bem, eu, como bom curtidor e fanfarrão de profissão, digo que em se tratando de festa, Brasília tá dando aula.

Só que não é de Fortal que quero falar, é do interior. No final de semana passado estive por lá, numa cidadezinha chamada Viçosa, para o Festival do Mel, Chorinho e Cachaça. Compareci ao evento representando Brasília, acompanhando o irmão e bandolinista atômico Dudu Maia, êta empreguinho bão esse meu! Tocar e experimentar cachaça, coisas de que gosto pouco. Apesar de tomar nota de e parabenizar todos os alambiques da região ali representados, toquei bem - até onde me lembro.

A maravilha foi essa: um festival de música instrumental, no alto da serra, uma mega-estrutura, tipo show da Madonna, cercada de floresta por todos os lados, rios e cachoeiras. Tome nota: nunca acredite que há uma cachoeira de verdade no local se quem te der a informação não for um brasiliense conhecedor da Chapada dos Veadeiros. É incrível, o povo chama qualquer bica de cachoeira. Já tomei muito banho de bica nesse Brasilzão com nativos da região gritando wuhuul achando que estavam pulando de uma Almécegas ou algo que o valha; alegrias do nosso cerrado. Mas isso não diminui em nada a magnitude dos lugares aonde a música nos leva.

Mas sim, som do tipo quebradeira pro povo do vilarejo e arredores... Os apreciadores do gênero sabem como é o acesso a isso. Dividimos o palco com a banda Nó em Pingo D’água, mestres da música instrumental brasileira que nos honraram com sua companhia. Veja só, antes de subir ao palco, um senhor se achegou ao Dudu e lhe disse: por favor, diga os nomes das músicas e dos compositores, pois meus filhos estão aqui e quero muito que eles saibam. Uma nova cultura brota do interior.

Não vi por lá humoristas escraxados ou o brega da vez... Tudo tem seu valor, o que é do povo é popular e merece ser louvado, só que, trocentas pessoas de olhar humilde vibrando com o Choro é de incendiar o coração!

Em menos de um ano toquei em três festivais no interior do Ceará; esse em Viçosa, uma vez no Crato com o forró fabuloso Lorota Boa (outra cria brasiliense), e a primeira em Quixadá, com o cantor e compositor Clodo Ferreira. Todas as vezes com uma estrutura que Brasília só vê no aniversário da cidade ou em shows de artistas consagrados. Pois era para abrigar artistas locais e desconhecidos de fora com algo novo a oferecer; duas coisas que nossa terrinha ainda tem que aprender a valorizar, para o alto e adentro. É verdade, o povo gosta do que às vezes a gente acha que terão medo. A massa é totalmente subestimada. Certa vez vi uma entrevista com Hermeto Pascoal onde foi indagado acerca da receptividade de sua música maluca pelo povo, de uma forma geral. O sábio respondeu: “Como assim? Todo mundo gosta do Hermeto, toca Hermeto na feira, no salão, toca em todo lugar...” Bem, só não toca muito na rádio, e isso é um problema, mas os artistas já estão dando um jeito, e isso é assunto pra mais de página...

Viva o Ceará!

O Rock





Dia desses, na casa d’um amigo, funcionando naquele modelo: final de semana carreira solo solto na braquiara (como dizem os eruditos)... Paramos pra escutar o Xalé Verde. Nem poderia dizer que é simplesmente uma banda de rock que tive. Na verdade foi uma DAS bandas que tive. E eu tive banda mesmo!
Mas sim... Ouvindo o Xalé me dei conta de quanto meu pé descalço me valeu. Hoje eu mesmo brinco e chamo de hippie – é que tem o ‘Horizonte Reto ou Circular’ e a versão de ‘Ando Meio Desligado’. Até entendo a grandeza do significado do nome, e que todos-no-infinito-só também é enorme mas... Péra lá!
Engraçado foi que assim que digitei o “péra lá” o computador alterou para “pêra lá” automaticamente. Ah, foi mal... Esta é minha preleção preconceituosa, e é curioso como isso domina a gente. Outro dia, saindo de uma peça que batia incessantemente na tecla do preconceito racial no Brasil, já dentro do carro e em movimento, ao cruzar com um BMW, vendo o motorista negro, sem que eu desse por mim um pensamento mais forte que a minha vontade de pensar comandou os neurônios na direção da crença de que aquele negro seria o chofer do carrão. Acho que aí mora uma diferença interessante; algo tentou fazer com que eu realmente acreditasse que aquele pensamento era genuinamente meu. Tomei então do meu aprendizado e de todas as sensações que me culpavam de ser branco. As mais novas delas induzidas pela tal peça, pois que, ao final, já sentia até alguma vergonha pela minha cor e repeli do meu corpo momentaneamente a salvo da tal conclusão precipitadíssima. Isso tudo no tempo de:
Ele estando a mais ou menos uns 40 por hora, quase parando no sinal, e eu a uns 27, saindo do sinal recém aberto.
Duro foi quando o banco traseiro do vizinho alcançou minha visão agora politicamente correta. Um homem farto e claro, bem branquinho mesmo, ocupava o assento com cara de chefe. Percebi o pós-conceito que dominou o momento; uma pena... Mais isso é outra coisa. Ainda temos que aprender muito para depois mudar a realidade. Tiro do meu pensamento ‘o que não sou eu que penso’. É um verso de um poema meu que no final diz que ainda tem a televisão... É rapaz, é sério.
Do tanto que tentamos nos afastar do tal do ‘coletivo’ e ainda tem a televisão pra complicar. Ela é o principal veículo de difusão do dito coletivo. Ótimo, não?! Coletivo... O engraçado é chamar de coletivo um pensamento que foi pensado por uma meia dúzia, no jeito certinho de fazer com que todo mundo pense que aquele pensamentinho seja o tal pensamento bem pensado que ninguém pensaria que fosse, ã?! É porque é curioso ver os dos outros... E fácil de julgar. Agora, o pensamento de todo mundo é tão de todo mundo, tão de graça, que ninguém quer saber. Um pensamento que vive por aí. Ele tem acesso liberado a todas as cabeças, e muitas delas o pensam sem questionar. Até quem age diferente pensa nesse ‘acomodador’ também. Acomodado sim! Não quer pensar um pensamento que seja de sua própria máquina pensante!
Não quer nada com a curiosidade? Chegar num outro lugar, que não esse. Um outro mesmo, sem referência. Aprender dá uma preguiiiiça, ainda mais quando penso que para aprender terei que diminuir o rock.
Mas será?!
Sempre gostei de rock. Há diversos anos na Escola de Música de Brasília o professor, no meio duma daquelas aulas empolgadas do tipo “como é bom estudar, estude o dia inteiro e fique estudando” e blábláblá levantou a seguinte questão: O que há de comum entre Charlie Parker, Jonh Coltraine e Jimi Hendrix? Não sei no que ele pensou, mas é lógico que um cabeludo levantou e disse que eles morreram de rock. É indiferente ao estilo do sujeito, é rock, e ele pega.
Ê laiá... E rock rende história, viu?


Quem sou eu

Compositor, instrumentista, produtor musical, trilheiro e escritor

escritosonoro por @?

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