terça-feira, 17 de maio de 2011

Viva o Padrão

Viva o padrão, pois sem ele, o resto estaria condenado

Sustentando a energia


Malhação, a malhação é importante, já que hoje não temos mais que caçar, e, no caso de muita gente, nem cozinhar. Eu, na verdade não reclamo nada disso, nunca fui bom nem em matar passarinho, nem em cortar rabo de calango, nem em botar bombinha em cu de gato, nem cigarro em boca de sapo, nem em fazer arroz. Bem, pareceu até que não sobrou muita coisa pra eu ser bom, ainda mais na infância, e ainda mais numa infância na roça. Eu era bom em comentar, pois estava presente em todos esses sinistros – segura de lá que vai escapar, não é que o sapo explode mesmo enquanto fuma, vigi, não é que o arroz direto no óleo vira pipoca! é... queimou de novo...

Mas já que não tenho que gerar diretamente meu próprio alimento, ainda bem, pois se assim fosse eu me alimentaria muito mal, tenho que pelo menos dar uma malhadinha na semana, pra não atrofiar a musculatura, já que não corro atrás de calango, e desde a adolescência também não corro da polícia, isso por que hoje, quando eles chegam já vou logo dizendo a verdade, é senhor, tava sim, sério, tava sim, mas já acabou... tá aí outra coisa em que nunca fui bom, mentir. Mas já que tem isso tudo, faço lá umas cinco flexões, mando ainda umas 7 paralelas e mais uma meia dúzia de abdominais, pras mais ou menos três vezes na semana que vou ao parque Olhos d’água, nossa, os abdominais... que exercício herético esse, é algo muito estranho de se fazer, é a travação da espera do orgasmo, só que sem prazer, e é lógico, sem gozar!

No último dia que me exercitei, ao sair, reparei nos prédios que ficam em frente ao parque, uns prédios meio burrões, tá bom, eu também queria uma AP burrão daqueles, mas não sem dar uma sacaneada básica - fala sério, um apartamento de frente ao parque no qual a janela não abre!  - sou visita, acordo na sua casa e digo, ai que dia lindo, as pessoas no parque correndo, caminhando, malhando, vamos abrir a janela e sentir a brisa fresca e estimulante que me fará descer e ser saudável também... desculpa, não dá, a janela não abre... como assim? Ela só abre 20cm pra frente, tipo janelinha de banheiro que dá pra parede... sério? Sério! Então liga a TV e abre uma coca, vou dar mais um tempinho aqui antes de sair!

Imagino que seja isso que acontece, isso pelo menos com a galera que vi no salão de malhação desse mesmo prédio. O cara corre numa esteira olhando as pessoas correndo ao ar livre, sob o sol, rodeado de outras pessoas lindas e amorenadas fazendo a mesma coisa, isso deve ser realmente muito desestimulante, esse povo todo submetido às intempéries do tempo, cercados de passarinhos, iguais aqueles que não conseguia caçar quando era pequeno, porquinhos da índia in natura, tipo capivarinhas baby, já viu? Tem vários no parque - não vou lá pra fora não, socorro, vou ficar no salão, tem vidro fumê, pra me protegê do sol. Bem... cada um com sua escolha.

Mas acerca dessa escolha eu fiquei pensando que essas e as outras esteiras que existem por aí, juntamente às ergométricas, transports e tudo o mais que se refira a esportes aeróbicos estáticos, se é que a expressão é cabível aqui, poderiam ser integradas a um sistema avançado de geração de energia. Com essa moda toda de energia sustentável, e a gente ainda represando rio, alagando floresta e cidade, desabrigando bicho e gente, rodando o cata-vento, poxa, por que não botarmos a nós mesmos para sustentar a energia - dá uma corridinha e vai pro banho quente, que tá quente por que você deu uma corridinha antes. Dá uma pedalada na sala do vidro fumê e depois vai ver TV no ar condicionado, que está condicionado por que você condicionou ele enquanto se condicionava a pedalar na sala do vidro fumê, e por aí vai.

Podemos ser os râmisters do futuro, nós em nossas gaiolinhas, prédios que tem até cabeleireiros ou condomínios com clube e a coisa toda, circulando em nossas rodinhas de exercícios, gerando nossa própria energia, que lindo! ...Tá, tá bom, não deu, me passa o telefone da pizzaria, amor, que fiquei aqui escrevendo admirando a paisagem na janela e nem vi o tempo passar, não dá tempo de caçar, nem dá mais pra cozinhar, explode coração!


domingo, 15 de maio de 2011

Tempo Morrido

o que não sinto no pêlo, no peido
no pinto ou no umbigo
na pele do tempo
o que tenho sarado ou ferido
na marca do tempo
o que venho oprimido, rasgado, ou tingido
é o que não existe
no montante do tempo
o que não tenho notado
é o que não tenho existido
o que, no instante do tempo
do tempo parado
ou do tempo corrido
é tempo matado
é tempo morrido

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Futebol de segunda


Um dedão inchado pode realmente comprometer toda uma estrutura, sem falar no humor que essa estrutura abriga, esse último então, completamente falido, tem promovido caretas alegóricas que vem enfatizar as fofuras da mãe natureza – que porra de borboleta é essa! Céu azul, aff; sol quente do cacete, podia esperar o sábado! Se essas palavras tivessem sido impressas por uma máquina de escrever provavelmente se notaria a força com que foram digitadas.

Nessa segunda, em meu futebol de segunda, que aliás, fez jus à pejoratividade da expressão, desferi uma das maiores bicudas de minha existência, tanto enquanto jogador de futebol quanto como artista marcial... só que no chão! bola alguma havia sentido o furor desse artilheiro tal como o sentiu, o chão. Se eu tivesse acertado a pelota, eu prometo, tinha sido gol, e se tivesse sido gol, eu juro, tinha furado a rede, e se o goleiro tentasse agarrar, eu garanto, teria sido permanentemente proibida minha entrada no céu.

É incrível a frustração de ter uma certeza refutada por seu adversário. Antes fosse um aliado em auxílio à minha bomba, guiando meu pé de encontro ao centro direito da bola, proporcionando assim aquele efeito de vai-não-foi que a gente vê na televisão, mas não, meu inimigo... – talvez eu não devesse usar aqui essa palavra, pois uma competição em que não há vencedores ou premiações não necessita desse peso, mas sim, meu inimigo mortal desviou meu pé da bola e o fez cravar o chão, chão esse que meu orgulho afirmado viu rachar diante de meus olhos, nunca vi dedão mais forte. O pranto foi contido a tempo, a fala afinada foi projetada em tão baixo volume que quase meu substituto não escuta o chamado, e a respiração foi recobrada tão somente para pronunciar com o melhor de minha dicção um Puta que o Pariu com tudo que sobrava de minha masculinidade.  

Um dedão que mais parecia estar colado à minha cabeça, tendo em vista a velocidade com que a informação da dor absurda passou da extremidade da falange pro cérebro, aquela coisa de sentir antes do acontecimento, de ver a vida passar, de ter a certeza de que ali tudo acabará mal. Rapaz eu vi teu pé quicando, o primeiro falou, tá doendo, eu disse prontamente, chegou o outro, doido pra jogar, perguntando se eu tava parando, tá doendo, eu falei pra esse também, tá doendo era o único pensamento que me vinha enquanto eu segurava a canela, como que tentando impedir que a dor saísse do pé e espalhasse pelo corpo.

Futebol tem dessas coisas, tipo informações subliminares, sutilezas – eu, de outra feita já tinha machucado o joelho, cheguei bichado, nesse de segunda, e o tempo todo da pelada eu pensava se deveria estar jogando bichado, cataplau, bicuda no chão, cimento, porrada fatal. Mensagem que vem como o tapa do destino. Logo tem mais futebol. E o que entendo é que o ser humano tem que se recuperar mais rápido das intempéries da vida. 

Quem sou eu

Compositor, instrumentista, produtor musical, trilheiro e escritor

escritosonoro por @?

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