sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um caminho de amor


Me apresento às bundas, converso com os corações e me apaixono pelos intestinos...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Aquário



Minha primeira vez foi no carro, de forma alguma parecia o momento adequado quando ela começou – toda a correria da cidade do lado de fora e eu naquela bolha de paz – que passa, querido, queridão? Eu, num ritmo austero, tentando ser gente grande, tomando do trânsito como se eu fizesse parte do sistema imunológico da cidade, o próprio glóbulo branco em defesa do inconsciente coletivo e já um tanto amarelado pelo desgaste, é que não é fácil proteger quem te agride... mas aí ela veio, parecia que estava me lendo, me vendo, me observando, chegou mansa, afrouxando as amarras, sabia que eu não estava preparado para um impacto, então não impactou, nem chacoalhou, imagino que seja essa uma representação de sapiência, e assim sucedeu, minha primeira experiência com o som do Aquário.

Dentro do carro, separado do mundo pela mesma lataria que pretende me inserir nele, eu tive o primeiro entendimento acerca desse nome inusitado de banda (e olhe que já toquei na Pão Com Ovo, Secreção Mucosa e Cotonete do Diabo) - é muito fácil entender que o trio é que está no aquário, tocando pra gente, com aquelas carinhas de bons moços que eles tem mesmo, que eles são os beta-mansos, descansando sua beleza agressiva para nosso deleite, mas vi que o contrário procede mais. Nós é que estamos no aquário! Não sei se alma tem orelha, mas senti que a orelha da minha foi puxada – senta e escuta, galante, isso não é internet, não é droga passageira, não é farra, não é trato social, é a música da sinceridade, coisas que só percebem rapidamente as crianças.

Outro dia um guitarrista da pesada me disse “a história canta, de tempos em tempos aparece alguém pra diminuir o andamento” – em paralelo, uma grande amiga de sabedoria diferenciada me alertou “se querem que respeitemos o limite de velocidade, construam carros que respeitem esse limite” – eu ainda não consegui juntar logicamente as duas frases, mas a galera do Aquário talvez possa ajudar... Sou fã de barulho e de bateria, ou batedeira, poxa, ouvia liquidificador com gelo e aspirador de pó e assim deitava na rede com cara de anjo para ninar – agora meu sono mudou, os caras podem acessar uma parte ainda desabitada da mente, aquela que sabe ouvir, que sabe relaxar, sem pratadas ou bumbadas, sem ataque, é um só deixar que vai, e assim foi.

O sofá na capa – quando vi pensei logo que isso só podia ser coisa de Dudu Belo, que até os 47 anos de idade ainda terá a mesma cara de capa da Contigo, só ele pensaria numa arte conceitual assim, acho que o baixo pode causar isso nas pessoas, não sei, essa coisa de acuidade sensitiva... Se acomode no divã, relaxe, que nós olharemos por vocês, acho que é essa a idéia, não perguntei pois acredito que a dubiedade de compreensão é o melhor caminho para o entendimento extragaláctico...

É a música dos três elementos. O baixo como substrato da beleza incorpora a água, o cavaquinho que adorna e aquece, representa o Sol - aqui esse astro não precisa ser rei, pois nessa música a hierarquia não impera - e aí vem o violão para balançar tudo e criar as ondas douradas, é o vento. Dudu Belo, Pedro Vasconcellos e Rafael dos Anjos, sua criação é inerente à própria natureza – é uma canção que não precisa ser preservada, não está em extinção, ao contrário do que podem pensar por aí, ela está só nascendo, chegando, e de mansinho, obrigado pela leveza...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Bom dia, minha loucura



Bom dia, minha loucura, meu desvario companheiro, minha graça, um beijo na minha tua testa, na rima trocada faço a festa para o tapa na bunda de quem me detesta. Como se esse alguém houvesse... se era eu... legal que sou, amigo que vou, construção, um pilar de amizade erguido no conceito do desapego, represa de água corrente, peneira reversa, só passa o grosso, o fino fica, o detalhe, o sutil, tenho pra mim, mas não guardo, pois quem guarda é o vigia. A única vigília é para os desabrigados, sem coração que ampare, sem alma que salte, e essa vigília sempre termina, sempre acaba, pois um coração sempre aparece novamente, um coração diferente, que não se compare, nunca o melhor, pois a memória tenta guardar o melhor, ou tenta fazer do que passou e não volta, o melhor, a memória fantasia - por isso ando tão esquecido, o passo largo mal lembra o buraco pisado, e tento fazer que só lembre disso, pois, o prazer do buraco pulado, saltado em ornamento, é bom que seja sempre primeiro, único, exclusivo, assim como o prazer deve ser, único sempre, é que as coisas não se repetem, e essa é a sorte, que a repetição das coisas é como as voltas da maré, teve cheia, antes vazia, antes o mesmo, mas o mesmo nunca teve, traz sempre algo diferente do que levou, bom dia, minha loucura, meu desvario, minha graça, vôo contigo, sempre, alucinando, o som, a imagem, o tato, os compensadores, os catalisadores, os estimulantes e seus inibidores, os antônimos com todos os seus sinônimos e nós, anônimos atônitos, autômatos sorridentes, banguelas do destino, amarelos, verdes, cinzas, estáticos e peregrinos, vôo contigo, sempre, vejo a morte com sorte, ela é sempre feliz e competente, sucesso garantido ou sua vida de volta, pra morrer contente, como as voltas da maré, bom dia, polyanas e assassinos, altruístas alquimistas e pessimistas ingênuos, bom dia, genocidas, dedetizadores vorazes, bom dia, minha mais que amada, bom dia, minha harmonia oculta, minha beleza roubada, bom dia, minha loucura, que só mais esse dia, ele é todo seu, pra sempre.   

terça-feira, 17 de maio de 2011

Viva o Padrão

Viva o padrão, pois sem ele, o resto estaria condenado

Sustentando a energia


Malhação, a malhação é importante, já que hoje não temos mais que caçar, e, no caso de muita gente, nem cozinhar. Eu, na verdade não reclamo nada disso, nunca fui bom nem em matar passarinho, nem em cortar rabo de calango, nem em botar bombinha em cu de gato, nem cigarro em boca de sapo, nem em fazer arroz. Bem, pareceu até que não sobrou muita coisa pra eu ser bom, ainda mais na infância, e ainda mais numa infância na roça. Eu era bom em comentar, pois estava presente em todos esses sinistros – segura de lá que vai escapar, não é que o sapo explode mesmo enquanto fuma, vigi, não é que o arroz direto no óleo vira pipoca! é... queimou de novo...

Mas já que não tenho que gerar diretamente meu próprio alimento, ainda bem, pois se assim fosse eu me alimentaria muito mal, tenho que pelo menos dar uma malhadinha na semana, pra não atrofiar a musculatura, já que não corro atrás de calango, e desde a adolescência também não corro da polícia, isso por que hoje, quando eles chegam já vou logo dizendo a verdade, é senhor, tava sim, sério, tava sim, mas já acabou... tá aí outra coisa em que nunca fui bom, mentir. Mas já que tem isso tudo, faço lá umas cinco flexões, mando ainda umas 7 paralelas e mais uma meia dúzia de abdominais, pras mais ou menos três vezes na semana que vou ao parque Olhos d’água, nossa, os abdominais... que exercício herético esse, é algo muito estranho de se fazer, é a travação da espera do orgasmo, só que sem prazer, e é lógico, sem gozar!

No último dia que me exercitei, ao sair, reparei nos prédios que ficam em frente ao parque, uns prédios meio burrões, tá bom, eu também queria uma AP burrão daqueles, mas não sem dar uma sacaneada básica - fala sério, um apartamento de frente ao parque no qual a janela não abre!  - sou visita, acordo na sua casa e digo, ai que dia lindo, as pessoas no parque correndo, caminhando, malhando, vamos abrir a janela e sentir a brisa fresca e estimulante que me fará descer e ser saudável também... desculpa, não dá, a janela não abre... como assim? Ela só abre 20cm pra frente, tipo janelinha de banheiro que dá pra parede... sério? Sério! Então liga a TV e abre uma coca, vou dar mais um tempinho aqui antes de sair!

Imagino que seja isso que acontece, isso pelo menos com a galera que vi no salão de malhação desse mesmo prédio. O cara corre numa esteira olhando as pessoas correndo ao ar livre, sob o sol, rodeado de outras pessoas lindas e amorenadas fazendo a mesma coisa, isso deve ser realmente muito desestimulante, esse povo todo submetido às intempéries do tempo, cercados de passarinhos, iguais aqueles que não conseguia caçar quando era pequeno, porquinhos da índia in natura, tipo capivarinhas baby, já viu? Tem vários no parque - não vou lá pra fora não, socorro, vou ficar no salão, tem vidro fumê, pra me protegê do sol. Bem... cada um com sua escolha.

Mas acerca dessa escolha eu fiquei pensando que essas e as outras esteiras que existem por aí, juntamente às ergométricas, transports e tudo o mais que se refira a esportes aeróbicos estáticos, se é que a expressão é cabível aqui, poderiam ser integradas a um sistema avançado de geração de energia. Com essa moda toda de energia sustentável, e a gente ainda represando rio, alagando floresta e cidade, desabrigando bicho e gente, rodando o cata-vento, poxa, por que não botarmos a nós mesmos para sustentar a energia - dá uma corridinha e vai pro banho quente, que tá quente por que você deu uma corridinha antes. Dá uma pedalada na sala do vidro fumê e depois vai ver TV no ar condicionado, que está condicionado por que você condicionou ele enquanto se condicionava a pedalar na sala do vidro fumê, e por aí vai.

Podemos ser os râmisters do futuro, nós em nossas gaiolinhas, prédios que tem até cabeleireiros ou condomínios com clube e a coisa toda, circulando em nossas rodinhas de exercícios, gerando nossa própria energia, que lindo! ...Tá, tá bom, não deu, me passa o telefone da pizzaria, amor, que fiquei aqui escrevendo admirando a paisagem na janela e nem vi o tempo passar, não dá tempo de caçar, nem dá mais pra cozinhar, explode coração!


domingo, 15 de maio de 2011

Tempo Morrido

o que não sinto no pêlo, no peido
no pinto ou no umbigo
na pele do tempo
o que tenho sarado ou ferido
na marca do tempo
o que venho oprimido, rasgado, ou tingido
é o que não existe
no montante do tempo
o que não tenho notado
é o que não tenho existido
o que, no instante do tempo
do tempo parado
ou do tempo corrido
é tempo matado
é tempo morrido

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Futebol de segunda


Um dedão inchado pode realmente comprometer toda uma estrutura, sem falar no humor que essa estrutura abriga, esse último então, completamente falido, tem promovido caretas alegóricas que vem enfatizar as fofuras da mãe natureza – que porra de borboleta é essa! Céu azul, aff; sol quente do cacete, podia esperar o sábado! Se essas palavras tivessem sido impressas por uma máquina de escrever provavelmente se notaria a força com que foram digitadas.

Nessa segunda, em meu futebol de segunda, que aliás, fez jus à pejoratividade da expressão, desferi uma das maiores bicudas de minha existência, tanto enquanto jogador de futebol quanto como artista marcial... só que no chão! bola alguma havia sentido o furor desse artilheiro tal como o sentiu, o chão. Se eu tivesse acertado a pelota, eu prometo, tinha sido gol, e se tivesse sido gol, eu juro, tinha furado a rede, e se o goleiro tentasse agarrar, eu garanto, teria sido permanentemente proibida minha entrada no céu.

É incrível a frustração de ter uma certeza refutada por seu adversário. Antes fosse um aliado em auxílio à minha bomba, guiando meu pé de encontro ao centro direito da bola, proporcionando assim aquele efeito de vai-não-foi que a gente vê na televisão, mas não, meu inimigo... – talvez eu não devesse usar aqui essa palavra, pois uma competição em que não há vencedores ou premiações não necessita desse peso, mas sim, meu inimigo mortal desviou meu pé da bola e o fez cravar o chão, chão esse que meu orgulho afirmado viu rachar diante de meus olhos, nunca vi dedão mais forte. O pranto foi contido a tempo, a fala afinada foi projetada em tão baixo volume que quase meu substituto não escuta o chamado, e a respiração foi recobrada tão somente para pronunciar com o melhor de minha dicção um Puta que o Pariu com tudo que sobrava de minha masculinidade.  

Um dedão que mais parecia estar colado à minha cabeça, tendo em vista a velocidade com que a informação da dor absurda passou da extremidade da falange pro cérebro, aquela coisa de sentir antes do acontecimento, de ver a vida passar, de ter a certeza de que ali tudo acabará mal. Rapaz eu vi teu pé quicando, o primeiro falou, tá doendo, eu disse prontamente, chegou o outro, doido pra jogar, perguntando se eu tava parando, tá doendo, eu falei pra esse também, tá doendo era o único pensamento que me vinha enquanto eu segurava a canela, como que tentando impedir que a dor saísse do pé e espalhasse pelo corpo.

Futebol tem dessas coisas, tipo informações subliminares, sutilezas – eu, de outra feita já tinha machucado o joelho, cheguei bichado, nesse de segunda, e o tempo todo da pelada eu pensava se deveria estar jogando bichado, cataplau, bicuda no chão, cimento, porrada fatal. Mensagem que vem como o tapa do destino. Logo tem mais futebol. E o que entendo é que o ser humano tem que se recuperar mais rápido das intempéries da vida. 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tão cheia


Tão cheia que cobriu
Metade do céu
Ela brilhou
E morta de inveja
A lua
A ela imitou

Bordaste-me


bordaste-me
e agora que sobra
desfio-te

... saudade


... saudade como lâmina desnorteada, não sabe o que corta, não vê o que aparta
... como impulso ao mito do amor - que sabe-se tudo, seja lá o que isso tudo for
... é a invenção da falta, a inovação da dor

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Suas perfeições


A única imperfeição que a mulher perfeita pode apresentar é o auto-reconhecimento de sua perfeição, e o único problema de fato, é achar que é mais perfeita do que já é, aí, começamos tudo de novo...

Quem sou eu

Compositor, instrumentista, produtor musical, trilheiro e escritor

escritosonoro por @?

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