quarta-feira, 11 de maio de 2011

Futebol de segunda


Um dedão inchado pode realmente comprometer toda uma estrutura, sem falar no humor que essa estrutura abriga, esse último então, completamente falido, tem promovido caretas alegóricas que vem enfatizar as fofuras da mãe natureza – que porra de borboleta é essa! Céu azul, aff; sol quente do cacete, podia esperar o sábado! Se essas palavras tivessem sido impressas por uma máquina de escrever provavelmente se notaria a força com que foram digitadas.

Nessa segunda, em meu futebol de segunda, que aliás, fez jus à pejoratividade da expressão, desferi uma das maiores bicudas de minha existência, tanto enquanto jogador de futebol quanto como artista marcial... só que no chão! bola alguma havia sentido o furor desse artilheiro tal como o sentiu, o chão. Se eu tivesse acertado a pelota, eu prometo, tinha sido gol, e se tivesse sido gol, eu juro, tinha furado a rede, e se o goleiro tentasse agarrar, eu garanto, teria sido permanentemente proibida minha entrada no céu.

É incrível a frustração de ter uma certeza refutada por seu adversário. Antes fosse um aliado em auxílio à minha bomba, guiando meu pé de encontro ao centro direito da bola, proporcionando assim aquele efeito de vai-não-foi que a gente vê na televisão, mas não, meu inimigo... – talvez eu não devesse usar aqui essa palavra, pois uma competição em que não há vencedores ou premiações não necessita desse peso, mas sim, meu inimigo mortal desviou meu pé da bola e o fez cravar o chão, chão esse que meu orgulho afirmado viu rachar diante de meus olhos, nunca vi dedão mais forte. O pranto foi contido a tempo, a fala afinada foi projetada em tão baixo volume que quase meu substituto não escuta o chamado, e a respiração foi recobrada tão somente para pronunciar com o melhor de minha dicção um Puta que o Pariu com tudo que sobrava de minha masculinidade.  

Um dedão que mais parecia estar colado à minha cabeça, tendo em vista a velocidade com que a informação da dor absurda passou da extremidade da falange pro cérebro, aquela coisa de sentir antes do acontecimento, de ver a vida passar, de ter a certeza de que ali tudo acabará mal. Rapaz eu vi teu pé quicando, o primeiro falou, tá doendo, eu disse prontamente, chegou o outro, doido pra jogar, perguntando se eu tava parando, tá doendo, eu falei pra esse também, tá doendo era o único pensamento que me vinha enquanto eu segurava a canela, como que tentando impedir que a dor saísse do pé e espalhasse pelo corpo.

Futebol tem dessas coisas, tipo informações subliminares, sutilezas – eu, de outra feita já tinha machucado o joelho, cheguei bichado, nesse de segunda, e o tempo todo da pelada eu pensava se deveria estar jogando bichado, cataplau, bicuda no chão, cimento, porrada fatal. Mensagem que vem como o tapa do destino. Logo tem mais futebol. E o que entendo é que o ser humano tem que se recuperar mais rápido das intempéries da vida. 

Um comentário:

  1. Rapaz, tiveste essa inspiraçâo pois não recebeste um tirambaço de primeira, daqueles sem pulo, no meio da fuça. A bola veio tal qual Mike Tyson, que batia com o objetivo de mandar o nariz do sujeito para o meio do cérebro. É... igual o seu dedão, querendo mandar um pedaço do campo para o centro da terra.
    Meus sentidos plainaram feito pluma, igualzinho o Maguila quando levou aquele gancho no queixo de um tal Mano de Piedra. Nunca vou me esquecer do cronista esportivo dizendo: "O Maguila parecia uma estação da Petrobrás flutuando como uma pluma no ar".
    Fui acordar com o Niko me mostrando oito dedos em uma única mão, a perguntar: "Quantos dedos tem aqui???".
    Pois não é que 10 minutos ensanguentados depois, eu não estava a jogar novamente? Com o nariz fraturado!!!!
    Se o seu futebol foi de segunda... o meu foi de quinta. E te espero lá!

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Quem sou eu

Compositor, instrumentista, produtor musical, trilheiro e escritor

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