segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

15' - Carta aos Funcionários

Voltemos ao nosso estimulante ofício...
Isso foi o que eu disse depois de um daqueles almoços de repartição pública em que se fala mal dos colegas, de boa parte da vida, do time brasileiro de futebol... e até do próprio almoço!

Pensei que de nada vale reivindicar um local mais apropriado para comer em valorosos 15 minutos. Encher a marmita no restaurante mais próximo leva 15 minutos, trazer a comida de casa todo dia é inviável - e leva 15 minutos -  sei lá, 15 minutos?! Porra, só o cigarro não leva 15 minutos. Isso foi o que a moça que me acompanhava murmurou com receio de quem pudesse escutar. Ela falava do camarada (agora é camarada, antes era colega) que disse outro dia que – (...) de funcionários como eles (nós) que fazem só seis horas e ainda tiram uma hora de almoço. Traidor da categoria. Traidor é pesado, e o sujeito é legal, mas se a gente não se defende...
Eu fico alguns minutos a mais no meu almoço, que deveria levar apenas o tempo que não dá pra almoçar, mas ganho um terço do que aquele camarada, o que era colega.

É impressionante o que não faz a inveja. Acho que ele queria ganhar menos, queria ganhar como eu, queria trocar seus problemas pelos meus; que ele nem conhece! Afinal de contas minhas contas são menores, não tenho e não quero filhos por agora, namoro uma gatinha, sô bonito que só! É... Ele tem razão! Se eu era ele, também queria trocar. Mas não pode! Só lamento, senta e chora. É realmente impressionante como todos temos a ver com a vida de todos... É como se tudo nos interessasse, inclusive o que não nos diz respeito. Principalmente o que não nos diz respeito.

Nesse meio tempo de raciocínio quase vespertino passa a chefia rindo. Nem todo mundo que ri acha graça (e isso é sabido pelo povo). Tem gente que ri como quem briga; só que rindo. Tem gente que ri de desespero; tá lascado e tá rindo. Tem um monte de risada gostosa, e tem aquela que é amarela; e ela riu assim, dizendo por entre os dentes cerrados de riso: Ê colônia de férias hein?! Assim vão queimar o meu filme! Mal sabe ela que filme algum a suporta.

Isso se deu porque eu estava no meu jeito de sentar, - tudo bem, parece mais um jeito de deitar - mas foi só um momentinho. É duro! A gente tem que estar sempre com a razão! Não me dou com ela... Mas do jeito que eu estava sentado, e do jeito que eu continuei sentado mesmo após a aparição de quem precisava da minha hipocrisia para uma alteração rápida de configuração... Tá, eu merecia, eu mereci! Mas aí já lembrei do almoço, pensei no camarada que era colega e agora já é quase um féla, na copa não existe e, por fim, que estava me acomodando... É por que os japoneses incendeiam seus inimigos... brasileiros são todos bonzinhos...

Quinze minutos... Não se pensa tudo isso em quinze minutos! Em quinze minutos eu nem digito!

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