quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Retorno de Nokuda - Prólogo

O que você acha do rosa, cor interessante não é?

Penso no rosa, mas penso também em Nokuda, feroz guerreiro poeta do Mar de Todos os Gansos, que quase nada deixou de sua jornada pelos caminhos ocultos. Suas pegadas se apagaram com a primeira brisa, de forma que não temos sua trilha nem o tamanho de seus pés.

É difícil falar sério sobre Nokuda, já que logo nos inunda a vista sua veste rosa escura e sincera, tal como um demônio bom, carregado pelo peso do julgamento do Cosmos, e o fardo da androgenia herege. É certo que Nokuda era um errante, suas botinas de cano alto trabalhadas delicadamente a partir do couro de animal indeterminado que cresce livre no cativeiro do Mestre, já pisaram o imundo, profetizando desde a rolagem da cabeça real pela exaustão da pança por conta da gula, até a inundação de Terraseca pelo Mar de Todos os Gansos, de onde, pela asfixia, restaram apenas bolhas contendo cada último suspiro feliz dos ditos mortais não pecadores.

Nokuda não disperdiçava palavras, sua principal fonte de extermínio, sua arma explícita e imponente, pois que andava à sua frente, abrindo espaço pelo escuro do silêncio, em meio aos pagodes insensatos e à maioria burra: aos tolos, " todo ter é pouco", á linda - " princesa casta e do monarca filha, teu deus te guarda e filha tua nomeai, riqueza e poder às tantas e nem salvara a coroa do pai", aos crentes - "o que é meu é meu, e o que é seu, já que é nosso, como é de minha posse, só eu me aposso", ao quase sexo " o paradoxo e o desconexo, contextam amor, quando testam o sexo, e os complexos, com todos seus reflexos, dispensam ser anexos".

Era assim Nokuda, uma figura má, de má formação, má educação, mal vestida, mal dita, isso quando se entende por mal o mesmo que Santo Agostinho, a auxência do bem, um bem me quer, ou qualquer bem que seja dado, ou que seja feito, ou como o bem a que almeja o sutil diretor de arte, "não entenda mal, mas é que isso não faz bem". Seria talvez nosso Senhor Rosa desprovido de algum bem, que brilhasse mais que sua capa rosa ou suas botinas de pelo desgrenhado? Sim, sua magia estava onde o olhar ainda não alcança, onde mora a insipiência humana, algo além do sentir convencional, é o estudo da incerteza, a pesquisa do instinto. O amor de Nokuda, é esse o apelo do bravo, o seu afeto invisível, que se esconde por traz de seus dentes amarelos pela Fumaça Que Faz, que se esconde por trás de sua Barriga Que Come, por trás do olhar disperso de quem pensa no outro.

É esse o Nokuda, o amante do impensado, improvisado em breves linhas de um a tela digitada sem zelo, como mais que um agradecimento, que é também mais que um pedido, é o início de uma história da qual se espera um fim condizente com seu nascimento, mas que no entanto é incerto, e na verdade é isso que é bom.

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