segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Tocata no Ceará - Carta aos Melhóptimos




Ô Brasilzão lindo de meu Deus!

Nessa minha mania de enaltecer o que vejo de bom por aí, hoje darei notícias do Ceará.

Já tinha ido àquela Fortaleza linda algumas vezes. A capital é famosa pelo maravilhoso Centro Cultural Dragão do Mar - que é imponente como o nome -, pelo turismo sexual, por seus travestis mais fortes que os do Fenômeno e por ter a segunda-feira mais agitada do mundo. Sim, parece que lá enche mais até que o Criolina (uma festa exemplo daqui). Bem, eu, como bom curtidor e fanfarrão de profissão, digo que em se tratando de festa, Brasília tá dando aula.

Só que não é de Fortal que quero falar, é do interior. No final de semana passado estive por lá, numa cidadezinha chamada Viçosa, para o Festival do Mel, Chorinho e Cachaça. Compareci ao evento representando Brasília, acompanhando o irmão e bandolinista atômico Dudu Maia, êta empreguinho bão esse meu! Tocar e experimentar cachaça, coisas de que gosto pouco. Apesar de tomar nota de e parabenizar todos os alambiques da região ali representados, toquei bem - até onde me lembro.

A maravilha foi essa: um festival de música instrumental, no alto da serra, uma mega-estrutura, tipo show da Madonna, cercada de floresta por todos os lados, rios e cachoeiras. Tome nota: nunca acredite que há uma cachoeira de verdade no local se quem te der a informação não for um brasiliense conhecedor da Chapada dos Veadeiros. É incrível, o povo chama qualquer bica de cachoeira. Já tomei muito banho de bica nesse Brasilzão com nativos da região gritando wuhuul achando que estavam pulando de uma Almécegas ou algo que o valha; alegrias do nosso cerrado. Mas isso não diminui em nada a magnitude dos lugares aonde a música nos leva.

Mas sim, som do tipo quebradeira pro povo do vilarejo e arredores... Os apreciadores do gênero sabem como é o acesso a isso. Dividimos o palco com a banda Nó em Pingo D’água, mestres da música instrumental brasileira que nos honraram com sua companhia. Veja só, antes de subir ao palco, um senhor se achegou ao Dudu e lhe disse: por favor, diga os nomes das músicas e dos compositores, pois meus filhos estão aqui e quero muito que eles saibam. Uma nova cultura brota do interior.

Não vi por lá humoristas escraxados ou o brega da vez... Tudo tem seu valor, o que é do povo é popular e merece ser louvado, só que, trocentas pessoas de olhar humilde vibrando com o Choro é de incendiar o coração!

Em menos de um ano toquei em três festivais no interior do Ceará; esse em Viçosa, uma vez no Crato com o forró fabuloso Lorota Boa (outra cria brasiliense), e a primeira em Quixadá, com o cantor e compositor Clodo Ferreira. Todas as vezes com uma estrutura que Brasília só vê no aniversário da cidade ou em shows de artistas consagrados. Pois era para abrigar artistas locais e desconhecidos de fora com algo novo a oferecer; duas coisas que nossa terrinha ainda tem que aprender a valorizar, para o alto e adentro. É verdade, o povo gosta do que às vezes a gente acha que terão medo. A massa é totalmente subestimada. Certa vez vi uma entrevista com Hermeto Pascoal onde foi indagado acerca da receptividade de sua música maluca pelo povo, de uma forma geral. O sábio respondeu: “Como assim? Todo mundo gosta do Hermeto, toca Hermeto na feira, no salão, toca em todo lugar...” Bem, só não toca muito na rádio, e isso é um problema, mas os artistas já estão dando um jeito, e isso é assunto pra mais de página...

Viva o Ceará!

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