quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sobre algumas amizades

Revolvendo meus escritos - cadernos e folhas avulsas que arquivo na bagunça de pastas envelhecidas como o recheio e enobrecidas pela inclemência temporal, ratifico a união de partes que jamais deixaram o uno - identifico na abstração de meus versos a onipresença de amizades inestimáveis e que me orgulham por ter-me na mesma conta.

É enigmático como a interpérie encastela os pilares de nossa formação, e fabulóptimo quando esse crescimento natural é testemunhado por nobres personalidades em evolução convergente.

Eduardo Maia, Rodrigo Otávio e Carlos Eduardo. Conheço os três desde que se chamavam assim, o que durou muito pouco, uma vez que logo as personalidades marcantes de Dudu Maia, Rodrigo Barata e Cacai Nunes entraram em cena.

Difícil não me alongar ao falar de Dudu, hoje um dos grandes medalhistas do bandolim brasileiro, mas que conheci numa época em que me chamava de Vavá, por não conseguir falar Wladmir, que aliás, nunca achei que fosse nome de criança mesmo.

Rodrigo Barata, o paizão de meu querido afilhado tem cova certa ao lado da minha no cemitério do rock, que pelo visto demorará muito pra nos receber, tendo em vista a ruindade destes vasos inquebrantáveis.

Cacai Nunes, que o word não à toa insiste em chamar de Caçai, já caçava encrenca desde criança. É o nosso representante bucólico, apesar do mudernoso som que o cabra tira de sua viola caipira.

Passamos juntos por tantas fases quanto uns trinta e pouquíssimos anos muito bem vividos podem abrigar: infância trabalhadeira, preibois do prano, metaleiros do apocalipse, roqueiros do pé descalço, universitários universais, estudiosos da música, das pick ups e das filosofias de bar; historiadores da vida, ufólogos.

Me lembro de tocar hard core em sobradinho com o Barata (banda Pão com Ovo) e ser expulso do Galcão João de Barro à base de impropérios super-criativos, por que nosso som era farofa demais para o público de filhos do demo que nos assistia. Dudu Maia saindo ileso de um sério acidente de carro quando ouvia nossa primeira fita demo, da banda Xalé Verde - urucubacas à parte, mas pouco tempo depois li um relato de um brasiliense que escapava da queda do WTC: “quando começou a cair eu ouvia um disco de uma banda de Brasília, o Xalé Verde...” tudo bem, a banda já acabou. Nunca esqueço também de que, numa daquelas viagens marivilhóptimas do Xalé pelo litoral brasileiro, quando cruzávamos a linha verde na Bahia, passamos pelo então ciclista Cacai Nunes, que voltava de Natal para Brasília, é isso mesmo, mas de mês de pedal. Ainda bem que ele descambou de vez para a viola e parou de nos preocupar com sua bitolação atlética.

Inúmeras são as histórias e as pessoas maravilhosas que junto conosco as fizeram tão importantes. Tomei-me de grande alegria quando me foi solicitado algumas palavras acerca de minha relação com três das grandes personalidades que me ajudaram a ser o eu mesmo de hoje, meu único lamento foi ter tão pouco tempo pra conectar as idéias e manifestar em palavras o valor da nossa relação. 

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